quinta-feira, 29 de setembro de 2011

filhos...

Hoje acordei com minha filha me chamando... "mãe...." e quando vi ela estava com quase 40graus de febre... rapidamente levei-a para tomar banho e dei à ela um anti-térmico. Naquele momento, milhões de sensações e pensamentos passaram pela minha cabeça.. sentimento de preocupação, tensão e apreensão ao ver a minha filha tremendo, suando e chamando por mim foram marcantes... seu olhar sem compreender o que estava acontecendo... e o meu, sem disfarçar a minha preocupação...
Filhos... somente quem os tem sabe como é que é... já diziam os meus avós e meus amigos... mas fui compreender a expressão desta frase somente quando tive a minha filha... minha benção.. meu maior presente!
Hoje vivenciando como é cuidar de minha filha sozinha percebo as dificuldades e os avanços que a mulher contemporânea conquistou ao longo destes anos... conquistas por trabalhar e não depender exclusivamente do marido financeiramente e emocionalmente, por conseguir trabalhar e cuidar de seus filhos, por buscar sua independência e sua felicidade. Os modelos familiares tem mudado muito ao longo do tempo também... antes as famílias eram tradicionamente consideradas como patriarcais e atualmente temos muitas outras organizações familiares, como a da mulher divorciada que cuida dos filhos, família sem filhos, família com filhos pequenos...
A minha grande preocupação é com a educação de minha filha... como criá-la em um mundo digital? Onde as relações são mais baseadas no materialismo e no individualismo? Onde o contato interpessoal está se tornando cada vez mais escasso? Onde as pessoas cada vez mais não tem tempo para si mesmos?
Perguntas... perguntas... cada vez me pergunto como será o mundo quando minha filha for adolescente... perguntas sem respostas... lidar com a ansiedade de não saber como será... a única certeza que tenho é que ela deve ser educada para enfrentar o mundo, as dificuldades e que suas consquistas devem ser resultado de seu próprio esforço...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Uma reflexão sobre o comportamento compulsivo - a compulsão alimentar como forma de aprisionamento

Gostaria de compartilhar uma parte de um trabalho que realizei sobre a obesidade mórbida e as implicações psicológicas da cirurgia bariátrica para o Boletim Clínico da Clínica Psicológica "Ana Maria Poppovic" - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Para Roth em Cârência afetiva e alimentação - uma questão delicada, a compulsão não desenvolve-se no vazio, no vácuo, ela inicia-se no relacionamento. Recorre-se à comida quando o indivíduo sente que não é importante para aqueles que ama. Além disto, a compulsão alimentar pode estar relacionada à dificuldade em lidar com os problemas. Para a autora, comprometer-se com uma forma de alimentar-se é o mesmo que comprometer-se em um relacionamento: ambos remetem à uma forma de viver no mundo. O comprometimento significa saber ficar consigo mesmo, antes de relacionar-se com o outro. Neste sentido, o ato de comer pode representar uma metáfora da maneira como vivemos e como nos relacionamos. A comida pode ser para os compulsivos, a forma de serem amados, já que ela está sempre à disposição. A comida não diz não, não magoa e está sempre presente, em todos os momentos de nossa vida. A comida não pode ser considerada o amor, mas neste contexto pode ser a substituição dele.
A obsessão pela comida proporciona um lugar seguro onde o indivíduo pode depositar todos os sentimentos de decepção, raiva e tristeza. Enquanto o indivíduo tiver esta obsessão pela comida, este sempre terá uma razão concreta para explicar a sua dor. Aqueles que comem de forma compulsiva, passarão a sua vida esperando, pois a solução para seus problemas não depende somente do mundo externo ou mais especificamente, da comida, mas também de como o sujeito conseguirá lidar e conviver com suas questões internas.
O problema do comportamento compulsivo é que quando ele termina, o vazio permanece. Portanto, torna-se um ciclo constante, na busca incansável do preenchimento deste vazio através da comida.
Perder a gordura significa deixar a pessoa frente a frente com as feridas que a criaram...
Segundo Yuri em seu artigo o peso na cabeça, é comum após a cirurgia de redução de estômago, o sujeito arrumar um substituto para a sua compulsão, já que não conseguem mais se alimentar de forma compulsiva, ele necessita de outra fonte de prazer. A troca ocorre porque o problema se iniciou muito antes; o obeso mórbido substitui a falta de afeto e a ansiedade pela comida.
Podemos pensar a compulsão como uma forma de aprisionamento, pois o indivíduo compulsivo sempre se deparará com um vazio interior e estará sempre em busca de seu preenchimento, porém busca preenchê-lo de forma inadequada, através da comida. Além disto, o indivíduo compulsivo não consegue libertar-se do prazer que obtém com a comida, já que esta "liberdade" implica também lidar com sentimentos não tão prazeirosos, como suas angústias e conhecer-se mais intimamente. A compulsão dá ao indivíduo a falsa idéia de que seus sentimentos serão amenizados com a ingestão do alimento, fazendo com que ele a utilize sempre que se deparar com dificuldades que não sabe como resolvê-las.
Com a compulsão alimentar o afeto não é superado, muito pelo contrário, esta dificuldade reaparecerá nos momentos de tensão. A compulsão pode ser uma forma de "engolir" a raiva que sente do próprio corpo e de banir o medo do ato afetivo na vida real.


Por Cris Chechetto

Amor... escolhas...

Por que amamos?

Segundo a autora do livro Why we love? - the nature and chemistry of romantic love, amamos porque somos seres biologicamente programados para amar e possuímos uma poderosa necessidade de procriação assim como a de comer e dormir. Esta necessidade cria no cérebro uma energia abastecendo 4 sentimentos básicos - a paixão, a obsessão, a alegria e o ciúme.

Já para o escritor mexicano Dom Miguel Ruiz, procuramos o amor em outras pessoas que também estão à caça do amor. Porém para ele, no final, não encontramos o amor que procuramos porque só nós mesmos o temos.

O autor Anthony Giddens em A transformação da Intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas Sociedades Modernas, faz uma distinção entre o amor apaixonado ("paixão") e o amor romantico. Segundo o autor: "O amor apaixonado é marcado por uma urgência que o coloca à parte das rotinas da vida cotidiana, com a qual, na verdade, ele tende a se conflitar. O envolvimento emocional com o outro é invasivo - tão forte que pode levar o indivíduo, ou ambos os indivíduos, a ignorar as suas obrigações habituais". Ainda segundo ele, "o amor apaixonado é especificamente perturbador das relações pessoais..." "... gera uma propensão às opções radicais e aos sacrifícios". A distinção feita pelo autor é que no amor romantico predomina o amor sublime, o amor à primeira vista, a busca da auto-identidadea partir da descoberta do outro; e o amor apaixonado - a paixão - está mais relacionada à satisfação imediata dos desejos.

Faço estas colocações devido à uma história real que ouvi estes dias a respeito que uma mulher que deixa o marido e a filha para viver uma grande paixão.

Até que ponto a "paixão" nos leva a certas atitudes que anteriormente não eram pensadas? Quem nunca pensou em viver uma grande paixão e o que seríamos capazes de abdicar para vivê-la?

Não devemos julgar a atitude da história em questão, devemos refletir, a partir dela, que fazemos escolhas buscando a felicidade, afinal merecemos ser felizes e viver um grande amor... porém não podemos esquecer que essas escolhas envolvem outras pessoas, como nossos filhos. As nossas escolhas interferem, de alguma forma, no modo como nossos filhos nos vêem e como estes vão construir sua visão de mundo e de família. Na minha opinião, no momento em que temos filhos, estes são as nossas prioridades e pensar na felicidade e no bem-estar deles é pensar na nossa própria felicidade. Amar é necessário, viver uma grande paixão não é proibida, fazer escolhas faz parte do nosso dia-a-dia sem esquecer que a escolha, implicitamente ou explicitamente, envolve um outro ser humano.

Por Cris Chechetto

domingo, 25 de setembro de 2011

Conversa entre amigos...

Em uma conversa entre amigos algo me chamou a atenção...
Um deles me disse que quando está fora de sua rotina, gostaria de voltar à ela e vice-versa; que está em um lugar mas que gostaria de estar em outro.
Pensei... refleti sobre o assunto... e me questionei: "por que sempre queremos algo que não temos? por que nunca estamos satisfeitos com o que temos?"
Tantos porquês... na maioria das vezes sem respostas....
Somos seres humanos incompletos por natureza, estamos a cada dia aprendendo coisas novas e aperfeiçoando nossa forma de ser e estar no mundo... Ser incompleto, no sentido literal da palavra, pelo dicionário Michaelis, significa "que não é completo, não acabado, imperfeito, em que falta alguma coisa". Ser incompleto é uma condição do ser humano, estamos em constante processo de transformação e se não fosse desta forma, qual o sentido de estarmos aqui? Por isto, nossas indagações são constantes... nossos questionamentos devem nos conduzir a atitudes para nos tornarmos pessoas mais conscientes de nossa existência e para a busca do que nos faz felizes...
Mas, quando este sentimento de falta nos leva ao sofrimento, devemos reavaliar nossa postura frente a nós mesmos... A forma como nos vemos reflete na forma como os outros nos vêem... a forma como aceitamos a nós mesmos reflete em como nos relacionamos com mundo...
Nossos questionamentos devem nos direcionar para o auto-conhecimento e para humildade em aceitar que não somos perfeitos e em aceitar a diferença, pois é a partir do momento em que a aceitamos, que olhamos para o outro com igualdade...

Por que o começo é sempre difícil?

O projeto deste blog vem sendo desejado e planejado desde o ano passado. Meu maior desejo é abrir este espaço para reflexões, troca de experiências e poder ajudar de alguma forma com a minha experiência de vida... já que é nesta troca que ajudamos uns aos outros, aprendemos coisas novas, superamos medos e compartilhamos emoções e alegrias.
Adiei, adiei... e finalmente começei.... nunca imaginei o quanto seria difícil escrever as três primeiras linhas... assim como, muitas vezes, não nos damos conta o quanto é difícil darmos um primeiro passo até que necessitamos fazê-lo.
Por que o começo é sempre difícil?
Porque temos medo do desconhecido, medo do novo e muitas vezes não acreditamos em nossa própria capacidade para realizar nossos desejos...
Insistir... não desistir... persistir... quem nunca pensou em desistir de algo? Começar algo novo quando nos deparamos com alguma dificuldade? Superar o medo e os obstáculos podem trazer sofrimento, sentimento de vulnerabilidade, mas também pode trazer alegrias e conquistas... 50%, 50%... não trabalhar com 100% de certeza faz parte da nossa existência... nunca temos 100% de certeza... pois esta não é absoluta... e é nesta incerteza que muitas vezes não seguimos adiante...
Assim, gostaria de colocar as palavras de Fabrício Carpi Nejar, que traduzem muito bem o que eu gostaria de dizer:
" Sempre insista. Fale mais do que seja possível pensar. Insista. Temos que ter a capacidade de superar as resistências. Toda primeira conversa enfrentará uma série de inconvenientes. Mas insista. Não recue com a gafe, com o estardalhaço, com a vergonha. Siga adiante. Comece a rir sozinha.
... Não se explique. Insista. Eu não vou ficar esperando alguém me salvar. Eu mesmo me salvo...
... Não crie arrependimentos por aquilo que não foi feito. Sejamos mais reais em nossas dores.
Tudo o que não aconteceu é perfeito. Dê chances para a imperfeição. Insista."
Portanto, insista.. persista... dê espaço para o desconhecido e não para arrependimentos!